XII. História da Fundação da Comunidade de Santos (1915)
Dom Duarte Leopoldo e Silva, arcebispo de São Paulo (1907 – 1938), realizou Visita Pastoral à cidade de Santos em Maio de 1915. Na ocasião era acompanhado por dois religiosos Claretianos: Padre Florentino Simon Garriga, CMF, mais tarde Bispo, e, o Padre Julião Cantuer Bestué. Àquela época havia uma única paróquia na cidade de Santos, o porto dinamizava a o crescimento de uma cidade que contava com aproximadamente 100 mil moradores, em virtude das circunstâncias, urgia criar o quanto antes nova paróquia que atendesse à população da cidade e respondesse ao desenvolvimento da cidade e de seu porto. Dom Duarte teria compartilhado as suas ideias a respeito da criação de paróquia em Santos com os Missionários Claretianos Simon Garriga e Modesto Bestué que o acompanhavam.
Dom Duarte e a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria eram velhos conhecidos. Ao tempo em que os Claretianos criaram a Comunidade de São Paulo, Dom Duarte era pároco da Santa Cecília, eram, portanto, vizinhos desde a chegada dos primeiros missionários em 1895; depois, já arcebispo, Dom Duarte convidou a Congregação para abrir uma Comunidade na cidade de Curitiba (Paraná) que àquela época era de responsabilidade do Arcebispado de São Paulo. Sabemos que reiteradas vezes em suas viagens e visitas era acompanhado pelos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria. Quando Missionários Claretianos lhe fizeram companhia durante a Visita Pastoral de 1915 à cidade de Santos, contava-se já uma parceria de 20 anos de trabalhos pastorais e de fundação de casas. A criação de Paróquia na cidade de Santos cogitada por Dom Duarte encontrou apoio na intenção manifestada anteriormente pelo Superior Geral da Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria de a Quase Província do Brasil se fazer presente na cidade de Santos. A localização da cidade e de seu porto, entendia o Superior Geral, era estratégica para o recebimento e envio de correspondências e de mercadorias e, outrossim, para o alojamento e o translado de Missionários Claretianos, que, de forma regular, faziam uso dos serviços de navios para as suas viagens entre Brasil, América do Sul, África e Europa. A intenção do arcebispo de criar nova paróquia atendia ao projeto de expansão da Congregação no Brasil e estar presente em Santos era peça-chave naqueles dias.
Os Missionários Claretianos ocuparam, inicialmente, a Capela Santa Cruz situada à Rua Senador Feijó, que, àquela altura era templo de apenas 5 por 8 metros, mais tarde, ainda no mesmo ano de 1915, no mês de outubro, a Capela passou por ampliações com o acréscimo de duas naves laterais de 4 por 12 metros. Ainda assim, tais acréscimos não atendiam ao tamanho da paróquia e ao crescente volume, desde a chegada dos Claretianos, de paroquianos. O número de comunhões, casamentos e batizados, a considerar os relatórios do período, revelam que houve sensível aumento das atividades e de fluxo de fieis às dependências de Santa Cruz. Logo os Missionários Claretianos comprariam terrenos na Avenida Ana Costa (Bairro Vila Mathias) nos quais construiriam a nova matriz dedicada ao Imaculado Coração de Maria. A primeira comunidade de Missionários Claretianos era composta pelos padres Modesto Bestué, Superior da Casa, Pedro Giol Bosch, Primeiro Conselheiro, e, Inácio Bota Agullo, Segundo Conselheiro. Sabe-se que nos primeiros dias não havia Missionários Irmãos e foram contratados colaboradores para auxiliar no andamento da casa e da Paróquia.
A ampliação das casas e comunidades nos primeiros anos do século XX colocava desafios crescentes à Quase Província do Brasil, era necessário ampliar de forma contínua o número de Missionários Claretianos. Tamanha era a dificuldade que durante certo período, naqueles dias, o Padre Raimundo Genover foi o Superior Local da Comunidade de Santos ao mesmo tempo em que era, também, o Superior da Quase Província do Brasil. A extensão das Paróquias era grande e, no caso da fundação da Comunidade de Santos era preciso, também, de acordo com o contrato assinado com o arcebispo Dom Duarte Leopoldo e Silva, assumir os cuidados e a responsabilidade das cidades de São Vicente e de Itanhaém. Em termos demográficos, o município de Santos, em 1914, contava com aproximadamente 100 mil moradores. Havia muito trabalho pela frente e uma grande área para cobrir.
Os desafios missionários dos primeiros anos do século XX no Brasil, pediram dos Claretianos empenho e dedicação. A gripe espanhola, por exemplo, que espalhou-se por todo o mundo e vitimou mais de 50 milhões de pessoas nos últimos anos da década de 10 também se fez presente naquele Brasil de imigrantes e de forte atividade comercial em seus portos. Os Missionários Claretianos em suas casas procuraram reconfortar espiritualmente e auxiliar os enfermos. A Comunidade de Santos, de forma particular, acolheu na cidade de São Vicente que não contava com nenhum hospital os enfermos em sua própria residência. Desta forma, todo andar térreo da residência da Comunidade Claretiana de São Vicente transformou-se em hospital para atender aqueles que não podiam se deslocar para centros com recursos e unidades hospitalares.
O crescimento e a multiplicação dos trabalhos encontrou resposta no fluxo cada vez maior de fiéis. A construção da nova igreja da Paróquia do Imaculado Coração de Maria de Santos teve a sua pedra abençoada no dia 7 de novembro de 1921; à época o Padre Florentino Simón era o Superior Provincial da Quase Província do Brasil e o Padre Raimundo Genover y Carreras era o Provincial da Comunidade de Santos. No dia 7 dezembro de 1927, o novo templo foi solenemente inaugurado.
A Comunidade de Santos, nos dias de hoje, é composta pelo Padre Cláudio Scherer da Silva, Superior e Pároco, Padre João Benedito Godoy Carnevalli, Ecônomo e Vigário Paroquial, e, o Padre Nelson José Caleffi, Vice-superior e Vigário Paroquial.
Prof. Dr. Josias Abdalla Duarte
Arquivo da Cúria Provincial dos Missionários Claretianos