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Claretianos Brasil

XIV. História da criação da Prelazia de São José do Alto Tocantins (1924)

 

XIV.                  História da criação da Prelazia de São José do Alto Tocantins (1924)e da Diocese de Uruaçu (1957) 

A série de histórias de fundações das Comunidades tratou até o momento apenas de casas que estão ativas, deixamos de lado as supressas. Não falamos, por exemplo, das Comunidades de Salvador e de Porto Alegre. Salvador foi a primeira criada na região nordeste do Brasil, em 1908, e manteve-se ativa até 1965; Porto Alegre, fundada em 1907 e fechada em 1964. Quebramos o critério de tratar apenas das ativas e falaremos algo sobre a Prelazia de São José do Alto Tocantins e da Diocese de Uruaçu, isso será de grande ajuda, logo mais, ao tratarmos da Comunidade de Goianésia e da Prelazia de São Félix do Araguaia. Mais do que falar de casa supressa cabe dizer que houve, de fato, alteração de territórios de Prelazias e de Dioceses e, como isso, a Prelazia de São José do Alto de Tocantins perdeu o seu caráter jurídico e eclesiástico dando origem, entre outros, à Diocese de Uruaçu.

A história da criação da Prelazia de São José foi de maneira rica e minuciosa narrada por Dom Prada Carrera, por exemplo, em A Era da Graça (Prelazia Claretiana de São José do Alto Tocantins, 1977), Migalhas para a História da Prelazia do Alto Tocantins (Extraídas da poeira por D. Franscisco Prada, 1951), e, Memória da Prelazia de São José do Alto Tocantins (Dados coligidos e recordados, 1977); de fato, às obras aqui citadas podemos indicar outras tantas do bispo claretiano. Dom Prada além de incansável missionário dedicou-se de forma regular e constante ao registro e à organização da memória claretiana e da igreja no Brasil, pois além de se dedicar à história dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria redigiu, entre outros, Gênese das Circunscrições Eclesiásticas de Goiás (1978), que, tal como indicado em seu título inventaria e mapeia os caminhos, paisagens e gentes de extensa região do Brasil Central a partir do trabalho e da presença da Igreja. Limitamo-nos aqui, de forma breve, a trazer uns poucos registros das circunstâncias e do tempo em que ocorreu a fundação da Prelazia tal como narrados por Dom Prada nas obras indicadas.

Antes de prosseguirmos vale rememorar que a chamada Prelazia é organismo criado ao tempo de Pio XI – papa entre os anos de 1922 e 1939 – para atender grandes áreas geográficas de reduzida presença demográfica. Foi organismo usado – e ainda em uso – em vários territórios das Américas do Sul e Central. Cabe notar que o clero diocesano encontrava maiores dificuldades de instalação e de manutenção de comunidades do que o clero missionário, assim, as prelazias em razão disso teriam nas Congregações Religiosas a base de sua sustentação e de seu crescimento. Esforço que era, então, respaldado pela Congregação da Propaganda Fide, hoje, Congregação para a Evangelização dos Povos da Santa Sé.

Nos primeiros anos do século XIX, a Igreja no Brasil apresentava um número de bispados, que, de acordo com o Papa Leão XIII, seria desproporcional ao tamanho do país e ao número de seus habitantes. A saber, havia o arcebispado de Salvador, os bispados do Rio de Janeiro, São Paulo, Olinda e Recife, Maranhão, Pará e Mariana, e, as Prelazias de Cuiabá e a de Goiás. Seria necessário, nessas condições, fomentar e criar novas dioceses e arquidioceses. A mesma apreciação valia, de igual forma, para as igrejas das Américas do Sul e Central.

Dom Prudêncio Gomes da Silva, bispo de Goiás, entre 1907 e 1921, cuidou de dividir a extensa área que tinha sob a sua responsabilidade. Nascia, desta forma, uma diocese e uma prelazia a partir da Diocese de Goiás. Há que se observar que ainda que segmentados os territórios eram ainda extensos, a prelazia, por exemplo, tinha como referência limítrofe o Rio Araguaia de um lado e, do outro, a fronteira do Estado da Bahia, ou seja, aproximadamente 150 mil quilômetros quadrados. Território extenso, de ocupação demográfica irregular e que em virtude da ausência de malha de estradas e de ferrovias exigia exaustivas viagens em lombo de animais para cobrir mesmo que distâncias pequenas. Basta lembrar que a viagem de posse do primeiro missionário claretiano à Prelazia levou 10 dias: 3 dias de trem, 1 dia de caminhão e 6 dias de viagem a cavalo.

A Prelazia de São José do Alto Tocantins foi criada no dia 25 de julho de 1924. Padre Francisco Ozamis Corta, CMF, nascido em Guernica (Espanha), foi nomeado administrador da Prelazia no dia 11 de junho de 1926. Empenhou-se na criação de vias de acesso que facilitassem a integração da região e realizou a sua primeira Visita Pastoral percorrendo aproximadamente 1000 quilômetros. Cuidados com a saúde o fizeram retornar, em 1929, à cidade de São Paulo para a realização de exames, faleceu em 25 de novembro de 1929. Dom Francisco foi substituído por Dom Florentino Simón Garriga, nomeado em 21 de junho de 1931. Ao tempo de Dom Florentino iniciou-se a construção de um novo santuário; ausentou-se, em 1934, para acompanhar a beatificação do Padre Fundador Antônio Maria Claret em Roma, faleceu no dia 23 de novembro de 1935. Dom Florentino foi substituído por Dom Francisco Prada Carrera, CMF, nomeado em 10 de dezembro de 1937, ficou à frente da Prelazia até 1957, quando a reorganização eclesiástica levou à criação da Diocese de Uruaçu sendo o seu primeiro bispo. Na qualidade de bispo prelado Dom Prada Carrera cuidou da criação de novas comunidades e de casas, eletrificação, construção de moinho e de usina de geração de energia, criação de Caixa de Beneficência voltada aos necessitados da região da Prelazia e a fundação de um Seminário são algumas das ações que mereceram a atenção de Dom Prada Carrera. A lista de ações missionárias é extensa e abrangente. 

A extinta Prelazia de São José do Alto Tocantins, em 1957, teve o seu território dividido entre as Dioceses de Uruaçu e a de Goiânia e, também, deu origem às Prelazias de Formosa e de Cristalândia. O município de São José do Alto Tocantins, mais tarde Niquelândia, e os de São Domingos, Itapaci, Hidrolina, Santa Teresinha e de Goianésia, entre outros, que integravam a área da Diocese de Uruaçu, nos anos seguintes, abrigariam residências e comunidades dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria tornando evidente o quanto a história da Província Claretiana do Brasil encontra-se ligada àquela região do Brasil. Dom Prada Carrera, em 1976, aos 83 anos apresentou o seu pedido de renúncia à Diocese de Uruaçu.

Prof. Dr. Josias Abdalla Duarte

Arquivo da Cúria Provincial dos Missionários Claretianos

 

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Comentários 1

02/03/2018 21:37 - Reginaldo

Boa noite...achei intetessantissimo esse artigo, nao sabia que a acao e presença claretiana nesses rincões goianos fosse tão historicamente relevantes. Sou Reginaldo, niquelandense e estudante de história pela UEG e gostaria de saber mais sobre esse ilustre pastor da prelazia de sao jose e seus escr