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A Missão de Santo Antonio Maria Claret

P. José Maria Viñas, cmf

I . “MISSÃO” EXTRAORDINÁRIA

À medida que o século XIX vai adquirindo perspectiva histórica, a figura de Santo Antônio Maria Claret vai encontrando também seu lugar adequado. A personalidade de Claret, feita de contrastes, criou uma “circunstância” mais contrastada ainda: caluniado e festejado em seu tempo, discutido e louvado no processo de beatificação entre os embargos do “advogado do diabo” e os elogios dos advogados defensores. Estes contrastes de luz e sombra ajudaram pouco a alcançar uma visão objetiva da sua missão e do seu real influxo na Igreja. No entanto, o que na hora da verdade, por ocasião da beatificação e da canonização, disseram os sumos pontífices Pio XI e Pio XII, respectivamente, e que pôde soar a panegírico de circunstâncias, agora o repetem os historiadores desde a frieza ao rigor científicos.

Pio XI disse que, entre os homens providenciais que Deus envia à sua Igreja em circunstâncias extraordinárias, “entre os grandes homens do século XIX suscitou Antônio Maria Claret” (*1). Pio XII proclamou que Claret havia servido a Igreja até o fim da sua vida “como ninguém” (*2). Agora, os historiadores dizem que “o Padre Claret marca o século XIX espanhol com sua vida santa e apostólica” (*3). “Ninguém mais ilustre que Santo Antônio Maria Claret entre os que se dedicaram à rude tarefa de melhorar os costumes e instruir religiosamente o povo” (*4). O movimento de evangelização para recatolicizar a sociedade espanhola “está vinculado ao Padre Claret, apóstolo da Espanha” (*5).

O Padre Claret, inicialmente chamado a ser um missionário popular, teve uma missão extraordinária na Igreja pelos dons extraordinários que o Espírito lhe concedeu e por sua ação multiforme e avassaladora neste mesmo Espírito. Desde seu ser missionário, consagrado e configurado com Cristo evangelizador, teve uma visão profética do mundo e da Igreja, das necessidades urgentes do seu tempo e como missionário procurou dar uma resposta adequada com os meios mais eficazes e suscitou esta mesma visão e esta mesma resposta em outras pessoas: leigos, religiosos e sacerdotes, animados com seu mesmo espírito apostólico.

II. CLARET, “MISSIONÁRIO APOSTÓLICO”

Na primeira biografia de Antônio Maria Claret, escrita um ano depois da sua morte, o Pe. Francisco de Assis Aguilar, bom conhecedor do Santo como amigo e colaborador, lhe deu como primeiro título, na capa e com caracteres destacados, o de missionário apostólico, deixando em segundo lugar e em caracteres menores, o de arcebispo de Santiago de Cuba e de Trajanópolis (*6). Este fato é muito significativo, porque “missionário apostólico” descreve a personalidade mais autêntica e profunda de Antônio Maria Claret.

Missionário apostólico, em seu sentido originário e jurídico, significa um sacerdote enviado pela Sé Apostólica a suscitar a Igreja ali onde não está estabelecida; significa também um sacerdote recomendado pelo Sé Apostólica ao ordinário da Igreja estabelecida para que este lhe dê missão canônica a fim de animá-la ou re-evangelizá-la (*7). Claret obteve o título de missionário apostólico ad honorem em 1841; mas para ele não foi um título honorífico, mas uma como definição do seu ser, um reconhecimento do seu carisma e um compromisso com a Igreja (*8).

Para Claret, ser missionário apostólico significa ser continuador da missão de Jesus Cristo, o Filho enviado pelo Pai e da dos Apóstolos, enviados por Jesus Cristo ao mundo inteiro para fazer Deus conhecido como Pai e suscitar seu Reino mediante o anúncio do Evangelho. Em primeiro lugar, enviado em missão universal. Por isso encontrou estreitos os limites de uma paróquia (*9), ou os de uma diocese, por muito extensa que fosse, como a de Santiago de Cuba (*10), ou os de uma nação, ao ter que exercer o cargo de confessor de Isabel II (*11). Missão universal no sentido mais geográfico: “a salvação de todos os habitantes do mundo” (*12), e um sentido de classes: hierarquia e fiéis, santos e pecadores, evangelizados e evangelizadores, pobres e ricos, sábios e ignorantes, reis e vassalos.

Em segundo lugar, missão evangelizadora. A Palavra é o primeiro meio, por assim dizer, de salvação. Entre os elementos do ministério apostólico, magistério e profecia, santificação e governo, Claret se sentia chamado a privilegiar, por vocação e de uma maneira integradora desde logo, o primeiro: o magistério; mas como evangelização e profetismo: a Palavra que converte e transforma. Por isso, quando esteve em sua mão, renunciou ao governo e à sacramentalização conservadora. Evangelização missionária e, por isso mesmo, itinerante (*13).

Em terceiro lugar, evangelização testemunhante, ao estilo de vida de Jesus e dos Doze. A itinerância leva consigo a pobreza e ele se sentiu chamado a vivê-la de um modo concreto, seguindo ao pé da letra o Evangelho: viajava a pé e sem provisões e, para ser totalmente livre para evangelizar, não queria ser pesado e não admitia dinheiro pelo ministério (*14). Em Cuba, onde as circunstâncias exigiam locomoção, adotou o cavalo, mas “de três onças no máximo, e o vendia ao terminar as missões para não defraudar com sua manutenção os pobres” (*15). No início viveu esta radicalidade como pioneiro solitário. Depois, o Senhor lhe concedeu poder vivê-la em comunidade, à maneira da comunidade evangelizadora de Jesus e dos discípulos. (*16).

Este modo de entender a missão apostólica não é fruto de estudo, mas de uma experiência do Espírito e de uma leitura carismática do Evangelho, de uma configuração pessoal com Jesus Cristo evangelizador. É fruto de muita oração na busca e só pôde vivê-la também com muita oração e docilidade ao Espírito na resposta.

Como missionário, se sentia possuído pelo Espírito, que o tinha consagrado para evangelizar os pobres e curar os de coração contrito (*17). Esta possessão era tão plena, que se sentia como instrumento, seta, buzina, de outro vinha a força e o impulso, ou o sopro (*18); às vezes, até o barulho do trovão. O espírito era a caridade de Cristo, que o arrebatava à intimidade do Pai ou o impelia por todos os caminhos em busca dos pecadores extraviados (*19).

Sabia pelo Evangelho, por inspiração do Espírito e pela vida vivida, que Cristo evangelizador é sinal de contradição e, por isto, os trabalhos, as calúnias, as perseguições, são como a divisa do apóstolo (*20). Claret experimentou isto como calúnia, falsificação de escritos, caricaturas, cantos, teatro; como ameaça, intimidação, até o atentado sangrento (*21).

Um livro tombo da catedral de Tarragona nos deixou este quadro sugestivo do missionário apostólico em seus primeiros tempos: “Antônio Claret, missionário apostólico, vai missionando pelos povoados onde o chamam e o enviam os prelados. Tem a idade de trinta e oito anos, homem verdadeiramente apostólico, de um zelo e fervor muito grande, infatigável e extraordinário. Anda sempre a pé; não admite dinheiro nem presente algum sob nenhum pretexto. Seu trabalho é imponderável, pois desde as quatro da manhã até à hora de deitar-se, apenas tem tempo para rezar e tomar o necessário alimento, já que passa do confessionário ao púlpito e do púlpito ao confessionário” (*22).

III. VISÃO “MISSIONÁRIA”

Como característica de Claret, colocou-se de relevo sua sensibilidade para captar a alma popular, sua capacidade de entrar em comunhão e compenetrar-se com o povo, fruto de seus dotes de bondade humana e do seu zelo apostólico (*23). Sua evangelização não parte de uma auto-suficiência de laboratório, que impõe seus métodos e programações, mas partia de uma visão da realidade. Visão que aflorava dos olhos do coração, inflamado de zelo apostólico.

Quando o Padre Claret se encontrou com o povo, o que viu e sentiu por primeiro foi o ódio entre irmãos, desencadeado pela questão de sucessão ao trono, e que tinha raízes mais profundas. As conseqüências, além das mortes, incêndios e saques, eram os espantos, a tristeza e os desgostos, enfermidades psíquicas (*24).

Viu que, a pesar de tudo, o povo conservava a fé, mas pouco iluminada, devido ao analfabetismo geral e à falta de catequistas e “catecismos” adequados (*25). Este povo crente era pecador porque as “três concupiscências” tinham se desencadeado pelo mesmo ambiente apaixonado da guerra (*26). Por outra parte, os ministros do perdão, influenciados pela pastoral barroca e ainda pelo jansenismo, aterrorizavam, mas não convertiam (*27). Havia também causas sociais que tinham conseqüências negativas para a piedade popular, entre elas, a industrialização, com todos os problemas de concentração urbana, de injustiças, de reivindicações. Ele mesmo, que havia experimentado o entusiasmo da fabricação como técnica e fator de progresso sendo trabalhador em uma grande fábrica de Barcelona, havia constatado também como separa o povo do cristianismo quanto serve à cobiça e, por isso mesmo, se converte em opressão (*28).

Outra conquista da técnica, o vapor aplicado aos meios de locomoção, ia influir também à sua maneira. O trem de ferro fez possível o transporte de massas antes ancoradas ao solo nativo e aos costumes e às tradições como normas de vida, sem princípios mais profundos (*29). Este povo analfabeto, de catecismo aprendido de memória, se sentia desorientado diante de formulações materialmente diversas das mesmas verdades (*30). Os que sabiam ler já não tinham tempo para longas sessões de leitura (*31). Tinha que nascer outro estilo literário e outra apresentação dos escritos. O vapor podia ser também um meio de evangelização e assim o usaria Claret nas viagens com a rainha (*32).

Mas o povo não era evangelizado nesta situação crítica, porque haviam sido suprimidas as ordens religiosas, os pregadores populares, ou, se o era, não o era evangelicamente, porque o Evangelho havia sido suplantado por outros temas ou por uma oratória de brilhantismo literário mais que de edificação, ou desalentadora por seu terrorismo barroco, ou demasiado sentimental pelo romantismo.

O pecado social

Em Cuba e também no sul da Espanha (*33), viu as conseqüências sociais dos pecados pessoais. “Nestas terras (Cuba) há uns princípios de destruição, de corrupção e de provocação da justiça divina” (*34); Um destes princípios é: “os ilustrados e docentes do país, em quem não só não há sombra de religião, mas um desprezo e ódio contra ela, e não perdoam meio algum para imprimir e embeber dos mesmos sentimentos o povo, que é sumamente dócil e humilde e facilmente se deixa seduzir pela suma ignorância que há hoje em dia. (*35).

A escravidão, ou a dominação do homem pelo homem, era como o máximo de todas as opressões. “Os proprietários de negros são inimigos das missões, da religião e da moralidade” (*36).

Finalmente, “pela infame conduta observada pelos europeus” (*37). “Não apreciam outro Deus senão o interesse” (*38). “Como conseqüência, a família está destruída pelos divórcios e amancebamentos e a justiça social, manchada pelo afã de enriquecimento” (*39).

As ideologias

Nos últimos tempos de Cuba e nos anos de Madri, Claret caiu na conta de que havia aparecido um novo sinal de destruição: as ideologias atéias. O idealismo alemão, com o panteísmo de Hegel; o positivismo inglês, o enciclopedismo, o racionalismo de Renan, o materialismo marxista: estas eram realmente as trevas que vagavam pelos ares e que iam influir no mundo mais que o liberalismo (*40). Era a luta definitiva do homem contra Deus, era a existência mesma da fé que estava em jogo. Santo Antônio Maria Claret conheceu esta realidade não só pela leitura e pelo estudo, mas pela oração e comunhão sobrenatural (*41).

Por outra parte, o protestantismo, pela eficácia proselitista de algumas de suas seitas, continuava perturbando o povo simples, não preparado para defender-se e que resistia mais pelo instinto interior que por uma doutrina iluminada. (*42).

IV. A EVANGELIZAÇÃO COMO RESPOSTA

A visão dos males do mundo, nascida do seu coração bom e sensível e do seu zelo apostólico, provocava nele uma reação ativa tanto a nível do seu caráter como a nível da sua vocação de apóstolo e estranhava que não acontecesse nos outros sacerdotes, religiosos ou leigos, o mesmo efeito (*43).

Para enfrentar os males do mundo, o Padre Claret, missionário, não encontrava remédio mais eficaz que a evangelização: “A palavra divina tirou do nada todas as coisas. A palavra divina de Jesus Cristo restaurou todas as coisas. Jesus Cristo disse aos apóstolos: Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho do Reino a toda criatura” (*44). E fazia sua a citação de Donoso Cortés: “A sociedade não perece por outra coisa senão porque a Igreja retirou sua palavra, que é palavra de vida, palavra de Deus”.

As multidões estão desfalecidas e famintas porque não recebem o pão cotidiano da palavra de Deus. Todo propósito de salvação será estéril se não se restaurar em toda sua plenitude a grande palavra católica (*45).

A evangelização do povo

Para evangelizar o povo, o Padre Claret, cheio de sentido humano e de amor evangélico, fez chegar ao mesmo povo a palavra salvadora pelas formas tradicionais; antes de tudo, pelas “missões populares” (*46). Nascidas na época da Reforma, tiveram seu desenvolvimento e sistematização nos séculos XVII e XVIII. Sua influência foi extraordinária em toda Europa (*47). Mas Claret tentou dar a estas missões uma nova orientação. “A temática principal das missões populares era herança da piedade barroca: novíssimos de modo terrorista, brevidade da vida, vaidade das coisas temporais, o pecado e suas conseqüências, explicação casuísta dos mandamentos, preparação da confissão e comunhão” (*48). Ele, sem deixar de ser do seu tempo, tinha uma nova sensibilidade. Jaime Balmes notou a diferença e escreve: “No púlpito jamais fala de teatro”. Nem de heresias, nem de filósofos, nem de ímpios. Supõe sempre a fé… Pouco terror, suavidade em tudo. Nunca dá exemplos que dêem pé ao ridículo. Os exemplos, em geral, são da Escritura. Fatos históricos profanos. Nunca oposições e coisas semelhantes. Fala do inferno, mas se limita ao que diz a Escritura. O mesmo do purgatório. Não quer exasperar nem deixar o povo louco. Sempre há uma parte catequética” (*44). Também notou algo de novo o jornalista de Havana: “Fala do inferno e se enternece pelo pecador ao ver-se privado para sempre da presença de Deus, sem os horrores das pessoas gritando nas caldeiras de chumbo derretido e sem os envenenados arpões que desfazem as carnes em sanguinolenta carnificina. Suas palavras são de conciliação e de consolo; jamais abandona o auditório na tempestade sem que o arco íris de paz haja aparecido no horizonte. Nunca desce da cátedra sagrada sem ter deixado as pessoas na doce expectativa da esperança, sem ter-lhes oferecido os consolos da misericórdia divina (*50).

Para evangelizar o povo Claret usou a cultura do povo: simplicidade, clareza, comparações (*51). Outro jornalista de Madri qualificava de bíblica sua eloqüência: “De seus lábios não se desprende uma só frase que tenda a esta eloqüência enfática, tão comum em nossos dias; nem revele pretensões de orador avantajado, nem traduza propensão a ostentar dotes nem privilégios destes que são tão apreciados entre os homens” (*52).

A credibilidade da sua pregação estava abalizada pela unção do Espírito, pelo zelo de sua caridade e pela coerência da sua vida com a mensagem que proclamava. Ainda, pelo desinteresse e dedicação total, sem descanso, nem compensações. Nos sete anos de evangelização na Catalunha pregou missões em umas 150 localidades, quer nas capitais da Província, quer nos povoados mais distantes da montanha. Sempre a pé, sempre vigiado pelo Governo, porque lhes dava medo a multidão que se reunia e pelo prestígio universal temiam um levante geral (*53). Nos quinze meses que passou nas ilhas Canárias pregou todos os dias, quer nas missões, quer nos exercícios espirituais. Em Cuba percorreu a diocese quatro vezes em visita pastoral, estas visitas eram verdadeiras missões. Em Madri, além das viagens reais, nas quais pregava incessantemente, aproveitava a estadia nos reais sítios para pregar missões nos povoados vizinhos. Desterrado, pregou em Paris. E em Roma, Padre do Concílio Vaticano I, não se dispensou de ensinar catecismo às crianças e aos soldados e de dar conferências a seminaristas e religiosos.

“Eu me atrevo a afirmar, disse o cardeal Isidro Gomá, que a pregação do Padre Claret contribuiu mais na restauração da fé e da piedade do povo e das virtudes sacerdotais dos ministros do Senhor que todos os meios ordinários de iluminação e santificação das almas. Porque não há nada que mova mais profundamente as pessoas que estas rajadas de divindade que sobre elas fazem passar os homens verdadeiramente possuídos pelo Espírito de Deus” (*54).

Mas além dos meios tradicionais, como as missões populares, o Padre Claret usou formas novas: exercícios espirituais, publicações, bibliotecas populares e paroquiais. Especialmente pelo uso da imprensa, Pio XI deu a Claret o título de apóstolo moderno: “Dizemos moderno em razão da objetividade dos meios e métodos adotados, que a antiguidade não teve nem conheceu e que em nossos dias representam uma parte tão importante e eficaz da nossa vida” (*55).

“Nem todos podem ouvir a divina palavra, escreve o Padre Claret, mas todos podem ler ou ouvir ler um bom livro” (*56). Isto o moveu a escrever folhas soltas, opúsculos, livros, roubando tempo ao sono da note. Para que as edições fossem verdadeiramente baratas e a preços populares, fundou, com o cônego Caixal, a Livraria Religiosa, que só em seus primeiros dezenove anos de existência editou 9.569.800 exemplares (*57).

Em Cuba repartiu gratuitamente 200.000 livros (*58). Em Madri fundou as bibliotecas paroquiais. Antes de morrer, até em Roma e em Fontfroide continuou o apostolado da palavra escrita. Procurava que em cada casa houvesse o Catecismo explicado (*59), para iluminar a fé da família; um Caminho Reto (*60), para facilitar a piedade e os Avisos (*61) a todos, para fomentar a santificação de cada um segundo seu próprio estado.

Para enfrentar o nascente humanismo ateu a nível popular, publicou Tardes de Verão (*62) e o Trem de Ferro (*63), difundindo, por meio de opúsculos, as devoções que mais se opunham a estas ideologias. O Triságio, contra o panteísmo; a Missa, contra a negação da divindade de Jesus Cristo; o Rosário, como a incorporação das vicissitudes da vida nos mistérios de Cristo e Maria, contra a concepção materialista da existência (*64).

Evangelização e promoção humana

Santo Antônio Maria Claret evangelizou sempre em contato vivo com o povo: “Como sempre ia a pé, me juntava com tropeiros e gente ordinária” (*65). Nem em Cuba nem em Madri se deixou isolar pela dignidade episcopal. Por isso, sua evangelização respondia às necessidades reais e com meios adequados. Como dissemos, em Cuba percebeu mais claramente as conseqüências sociais dos pecados pessoais e, por isso mesmo, uma conversão à vida cristã levava consigo conseqüências sociais positivas. Disse o Papa Paulo VI que entre evangelização e promoção humana, desenvolvimento, libertação, existem laços muito fortes, antropológicos, teológicos e evangélicos (*66). Claret viu a união entre evangelização e promoção principalmente desde a caridade apostólica. Em seu tempo, a diferença entre ricos e pobres se considerava como um fato de providência contra o qual não se podia lutar; havia que contentar-se com suavizar os contrastes (*67). Aos ricos havia que pregar que fossem justos e caritativos com os pobres e aos pobres que fossem austeros e trabalhadores. Os evangelizadores do século XIX não tinham o apoio de uma doutrina social, nem de uma crítica científica, nem de uma sensibilidade de justiça social que possuímos hoje.

Claret não se contentou com denunciar, desde o púlpito e escritos, os pecados dos ricos e dos pobres, mas colocou em prática uns meios que eram modernos em seu tempo. Escreveu um par de livros sobre a agricultura (*68) para a promoção dos trabalhadores do campo no aspecto técnico e humano-cristão. Organizou uma fazenda modelo e criou as caixas de poupança para facilitar os meios de trabalho, “porque vi que os pobres, se são bem orientados e lhes são proporcionados meios decentes de ganhar a vida, são homens virtuosos; de outro modo, se tornariam maus” (*69). Em seu Regulamento faz ver a ilação entre as caixas e o que havia ensinado, de palavra e por escrito, para conservar os bons costumes, elevar a moralidade pública e fomentar a agricultura e as artes mecânicas (*70). Os lucros líquidos deviam ser investidos nos dotes das donzelas pobres e na ajuda às viúvas. Também procurou que funcionasse no cárcere uma escola de artes e ofícios, “porque a experiência ensinava que muitos voltavam ao crime porque não tinham ofício, nem sabiam como procurar o sustento honradamente” (*71).

Também em Cuba encetou uma grande batalha a favor da família, desfeita pela interpretação abusiva das Leis de Índias, pelo divórcio e pelo amancebamento. (*72).

Evangelização e escravidão

A evangelização dos escravos era mais difícil, pela oposição dos donos das fazendas e dos negreiros (*73). Claret se empenhou em uma ação a nível de pessoas. Uma ação social eficaz pela emancipação transcendia, por sua complexidade, as possibilidades de um arcebispo. A Inglaterra estava a favor da emancipação, mas nem com seu poder de grande potência conseguiu em Cuba pelas interferências dos Estados Unidos. Os Estados do Sul queriam a anexação de Cuba para assegurar o lugar que lhes correspondia na Confederação, enquanto com isso podiam “reforçar o poder da escravidão como elemento de controle político (*74). Por sua parte, os negreiros de Cuba eram favoráveis à anexação como meio de salvar seus interesses. Sobretudo quando o Marquês de la Pezuela emanou um decreto muito enérgico, no dia 26 de dezembro de 1853, contra a trata de escravos. Para preparar a aceitação deste decreto pela opinião pública, o governador inspirou uma série de artigos no Diário da Marinha nos quais se louvava o arcebispo Claret por sua oposição à trata (*75). Por esta oposição, os escravistas em favor da anexação tentaram envenenar o Santo” (*76)

Evangelização e política

O Padre Claret, missionário, afirma uma e mil vezes que não quer se meter em política. No entanto, sua evangelização tinha conseqüências políticas, e os partidos teriam querido instrumentalizá-la a seu favor em um sentido ou em outro. Por causa da pregação na Catalunha, declarou o anarquista Jaime Brossa: “Antes da aparição do Padre Claret, Catalunha estava madura para o indiferentismo... Se não tivesse existido Claret, Catalunha teria compreendido a mensagem da revolução” (*77). Durante a permanência em Cuba, os escravistas em favor da anexação “diziam que lhes fazia mais dano com sua pregação o arcebispo de Santiago que todo o exército” (*78). Carr afirma que a intensificação do catolicismo espanhol, era devida em grande parte à pregação do Padre Claret, “por útil que fosse como elemento de coesão social, confundiu e dividiu o liberalismo” (*79). Pio IX sintetizou a conduta de Claret desta maneira: “Vi D. Claret e reconheci nele um digno eclesiástico, um homem todo de Deus e embora alheio à política, contudo, experimentou bastante as intemperanças da mesma política e a malícia dos homens que são católicos só de nome” (*80). “Como fonte e cabeça do catolicismo político, o Padre Claret se converteu em alvo predileto dos ataques radicais e liberais” (*81).

V. OS EVANGELIZADORES

Claret descobriu que o povo não era evangelizado e a Palavra não produzia as grandes conversões na sociedade como acontecera em outros tempos porque faltavam evangelizadores de vida evangélica autêntica e que estivessem animados de zelo verdadeiramente apostólico (*82). Na oração pedia ao Senhor que suscitasse estes evangelizadores e ele procurava colaborar com a ação do Espírito por meio dos exercícios espirituais aos leigos e aos sacerdotes (*83).

Pouco a pouco, o Espírito Santo foi levando Claret a ser mediação de graça missionária para os demais, princípio de identificação vocacional, pessoa englobante, isto é, lhe deu o carisma de fundador não só de associações de oração e ação apostólica, mas também de verdadeiras famílias de Deus na Igreja, ou, por melhor, de uma dilatada família nascida da sua experiência espiritual, da sua doutrina, da sua leitura carismática do Evangelho, da sua organização.

Santo Antônio Maria Claret fomentava o apostolado associado não só pela eficácia e pelas vantagens da associação, mas pelo testemunho e força da caridade fraterna vivida em comunhão de vida em diferentes graus (*84).

A organização de base foi a Arquiconfraria do Santíssimo e Imaculado Coração de Maria, para a conversão dos pecadores (*85). Associação popular e universal; dela foram saindo grupos mais especializados ou pela intensidade da vida evangélica comprometida ou pela qualidade do apostolado. Desta Arquiconfraria nasceu a Irmandade (1847), que integrava sacerdotes e leigos. Os sacerdotes se dedicavam principalmente à pregação de missões e exercícios espirituais. Os leigos, a escrever e difundir livros, à pacificação das famílias, união dos matrimônios, reabilitação das mulheres perdidas, caridade com os enfermos, encarcerados, pobres, anciãos, órfãos e viúvas. Uma seção importante desta Irmandade eram as diaconisas, mulheres que, além de cumprirem com as obrigações do seu estado, se dedicavam especialmente ao catecismo, ao ensino e à caridade, junto com o testemunho de uma vida cristã irrepreensível. Esta participação ativa das mulheres no apostolado encontrou a contrariedade do metropolitano de Tarragona (*86).

Claret promoveu também a virgindade consagrada no mundo, já que os tempos não favoreciam a vida conventual; mas também como verdadeira vocação cristã de vida evangélica laical. Deste movimento nasceu o instituto secular Filiação Cordimariana (*87).

No dia 16 de julho de 1849 fundou a Congregação dos Missionários chamados Filhos do Imaculado Coração de Maria, que deveriam ser seus continuadores na evangelização universal, não só para renovar a fé e a vida cristã na Igreja estabelecida, mas também para suscitar, pela evangelização, a Igreja lá onde Cristo não teria sido anunciado ainda. Missionários enviados, como os Apóstolos, a anunciar o Evangelho a toda criatura, mas também vivendo em vida verdadeiramente apostólica (*88). Para suprir os pregadores regulares se formaram algumas congregações sacerdotais, mas nenhuma levou tão adiante o empenho de vida apostólica, sancionada depois com os votos públicos simples.

Esta evangelização “itinerante” devia ser complementada pelo cultivo contínuo da renovação iniciada. A este fim, Claret pensou em um instituto de clérigos seculares de vida comum sem votos, ao serviço estável da diocese, “e são os que possuem os ofícios, benefícios, curatos, canonicatos, dignidades, professorados” (*89)

A primitiva Confraria havia possibilitado a Irmandade e da Irmandade havia nascido esta família ou exército do Coração de Maria, integrado à maneira de três ordens, com uma complementaridade de dons e funções: sacerdócio profético e vida religiosa, sacerdócio sacramentalizador de regime e apostolado secular com ou sem consagração no mundo. Entre estas ordens havia união de graça e de caridade, mas não estavam organizadas em dependência hierárquica umas de outras (*90). A revolução de 68 interrompeu, talvez, uma ulterior organização que podia ter levado a uma coordenação ou programação comum.

Ao redor deste núcleo fundamental suscitou outras associações para a evangelização, como a Irmandade da Doutrina Cristã (*91) e outras com caráter mais moderno, como a Irmandade Espiritual de Bons Livros (*92). E, sobretudo, a Academia de São Miguel (*93). Queria por fim responsabilizar os leigos no apostolado especializado. Os sócios se dividiam em três grupos: os literatos, os artistas e os propagandistas. “Unidos entre si, os acadêmicos procurarão viver com a simplicidade dos primeiros cristãos, sem que haja entre eles mais que um coração e uma só alma” (*94).

A experiência episcopal de Cuba o fez viver a Igreja como corpo místico do Senhor e como mistério e sacramento de salvação. Por isso, procurou com a palavra missionária influir em seus irmãos de episcopado para um plano de ação pastoral de conjunto (*95). Promoveu a formação de bons sacerdotes com seus escritos (*96), e com o seminário inter-diocesano do Escorial (*97). Viu que a Igreja não deveria se apoiar nas autoridades civis, mas em sua própria força interior (*98). Por isto promoveu a educação da juventude com seus escritos (*99) e ajudando a fundar congregações dedicadas ao ensino (*100), até estimulou seus missionários a ampliarem a catequese com a educação cristã integral, dizendo-lhes que era o maior bem que podiam fazer na Igreja (*101).

VI. “CUMPRI MINHA MISSÃO"

Um ano antes de morrer escrevia confidencialmente desde Roma: “Pode-se dizer que já se cumpriram os desígnios que o Senhor tinha sobre mim” (*102). “Parece-me que já cumpri minha missão: em Paris e em Roma preguei a lei de Deus. Em Paris, como na capital do mundo e em Roma, capital do catolicismo. Tanto oralmente, como por escrito. Observei a santa pobreza” (*103). Os destinatários destas cartas estavam a par do que o Santo chamava “desígnios de Deus sobre mim”, “minha missão”. Nos anos de 1855 e 1859 aconteceu uma nova abertura em sua missão na Igreja por meio do símbolo da águia e do anjo do Apocalipse (*104). As palavras que cita na Autobiografia estão tomadas do comentário de Cornélio Alápide, segundo o qual a águia significa um santo e celestial profeta enviado por Deus, que voa ou corre com grande velocidade pela terra e anuncia os grandes castigos que se aproximam (*105). O mesmo símbolo, ainda mais explícito, é o do anjo, no qual Claret se vê seguido por seus missionários como o eco da sua voz e ungidos pelo Espírito com a mesma unção profética para evangelizar os pobres e os de coração contrito (*106). A pregação em Paris e Roma era como uma antecipação simbólica e profética do que ele como fundador realizaria na Igreja.

A voz de Claret, que começou a proclamar timidamente o Evangelho no púlpito de uma pequena igreja de montanha, foi crescendo como rugido de leão e se deixou ouvir na Catalunha inteira, Canárias, Cuba, Espanha toda, Paris e Roma. Seus filhos, os missionários continuam e continuarão amplificando-a, como um trovão, pela Europa, América, África, Oceania e Ásia. A palavra de Claret, que começou por uma folha solta, cresceu como um vendaval de milhões de folhas que alcançam os campos e as cidades.

Seu primeiro método de missionar (*107) em uma pastoral de bispos tomou a dimensão da Igreja universal (*108). O grupinho de crianças da catequese de Sallent se converteu em um auditório de milhares de crianças nos cinco continentes.

Os cinco Sacerdotes que em 1849 se comprometeram viver evangelicamente para poderem anunciar o Evangelho apostolicamente, se converteu em milhares de missionários que vão prolongando, no tempo e no espaço, o seguimento de Jesus Cristo, representando sua vida de consagração ao Pai na evangelização.

O santo bispo D. Paulo de Jesus Corcuera antecipou a ordenação sacerdotal de Claret porque via nele algo de extraordinário (*109). Com efeito, era um seminarista diocesano, mas de coração para todo o mundo (110). A “discrição” do bispo foi certeira, porque Claret foi sempre extraordinário: um menino que já é apóstolo (*111); um operário precocemente técnico e de extraordinárias relações humanas com os operários (*112); pároco a quem fica pequena a paróquia (*113); missionário, mas ao modo apostólico no mais rigoroso sentido da palavra e das exigências evangélicas (*114); bispo missionário, ou melhor, missionário bispo, que não quer ser príncipe da Igreja, mas servidor de todos, percorrendo caminhos impossíveis, como as montanhas de Baracoa, para chegar a todos (*115). Confessor da rainha nada palaciano e evangelizador nacional (*116); Padre conciliar com cicatrizes de mártir (*117) e catequista no além Tibre (*118). Morre não como morrem os bispos, mas como os pobres e os missionários: na hospedagem de um mosteiro e perseguido até o último momento; sem funeral de dignitário, mas de pobre desterrado (*119). O Senhor o fez extraordinário para que pudesse cumprir a missão extraordinário que lhe havia confiado: conservar e defender a beleza da Igreja para que esta pudesse anunciar o Evangelho a todos de uma maneira convincente e crível.
José MARÍA VIÑAS, CMF

 

 

NOTAS
1)     Pio XI, Cartas apostólicas Magnus vocabitur, 25 de fevereiro de 1934: AAS 26 (1934) 174.
2)     Pio XII, Litterae decretales: Beato Antonio Mariae Claret, confessori Pontifici Sanctorum honores decernuntur: Quos Spiritus Sanctus, 7 de maio de 1950: AAS 44 (1952) 351.
3)     Jiménez Duque, Baldomero, Espiritualidad y apostolado, em: BAC, Historia de la Iglesia en España. V: La Iglesiaen la España contemporánea (1808-1975) (Madrid 1979) p. 468.
4)     Montalbán, Francisco Javier, Historia de la Iglesia católica, V: BAC (Madrid 1953) p. 607.
5)     Carr, Raymond, España. 1808-1939 (Barcelona 1970) p. 280.
6)     Aguilar, Francisco de Asís,Vida del Excmo. e Ilmo. Sr. D. Antonio María Claret, misionero apostólico (Madrid 1871).
7)     Urbaniana, Sylloge (Roma 1939) 13, III.
8)     HD, I, pp. 271-397.
9)     Annales CMF 35 (1939) 165.
10)   “Mas assim eu me amarro a um só bispado, quando meu espírito é para todo o mundo” (carta ao núncio Brunelli, 12 de agosto de 1849: EC, III, p. 41).
11)   Aut. n. 762.
12)   Constituições CMF, 1857, n. 2.
13)   Aut. nn. 193, 460.
14)   Doc. Autob. VII, 2.
15)   Cf. Informe do marquês de La Pezuela ao diretor geral de além-mar: Habana, 7 fevereiro de 1854: AHN Ultramar leg. 1662, n. 81. Fotocopia: CESC-Vic: FC-H 3.
16)   Aut. nn. 488-491.
17)   Aut. nn. 685 y 118.
18)   Cf. Declaração do Pe. Carmelo Sala: PIT ses. 3, art. 58.
19)   Aut. nn. 439-488.
20)   Aut. n. 427.
21) Aut. nn. 573-584.798.
22) HD, I, p. 227.
23) Montsonis, S. de, Un segle de vida catalana (Barcelona 1961) II, p. 786.
24) Aut. nn. 288, 291.
25) Aut. nn. 170, 171, 179.
26) Aut. nn. 285, 286.
27) Carta ao bispo de Vic, 27 setembro 1848 (EC, I, p. 279).
28) Aut. nn. 56-77.
29) Historia general de las civilizaciones, VI:Siglo XIX (Barcelona 1958) pp. 28-48, 172-185.
30) Claret, Unidad de catecismo (Barcelona 1867) p. 4.
31) Aut. n. 312.
32) HD, II, cap. 12.
33) Aut. nn. 717-735; cf. HD, I, pp. 614-618.
34) Carta ao Pe. Estêvão Sala, Jiguaní 4 de novembro de 1852 (EC, I, pp. 704-705).
35) Carta do Pe. Pedro García, S. J., cit. en HD, I, p. 616.
36) Carta ao Pe. Estêvão Sala, cit. en HD, I, p. 705.
37) Carta do Pe. Pedro García, S. J., cit. en HD, I, p. 616.
38) Carta ao Pe. Estêvão Sala, cit. en HD, I, p., 705.
39) HD, I, pp. 761-803.
40) Rops, Daniel, L’Église des Révolutions (Paris 1960) p. 573.
41) Aut. n. 685; Exercícios 1865; cf. Fernández, Cristóbal, La Congregaciónde los Misioneros Hijos del Inmaculado Corazón de María
1849-1912)
(Madrid 1967) p. 374.
42) Claret, Antídoto contra el contagio protestante (Barcelona 1862).
43) Aut. 13.
44) Aut. n. 450.
45) Aut. n. 450.
46) Claret, Antídoto contra el contagio protestante (Barcelona 1862).
47) Floristán, Casiano-Useros, Manuel, Teología de la acción pastoral, BAC (Madrid 1968) pp. 34-37.
48) Jiménez Duque, Baldomero, Espiritualidad y apostolado, en BAC, Historia de la Iglesia en España (Madrid 1979) V, p. 413.
49) Casanovas, Ignasi, Balmes: la seva vida, el seu temps, les seves obres (Barcelona 1932) II, p. 64.
50) Cit. en HD, I, p. 341.
51) Aut. nn. 222, 297-299.
52) Cf. HD, I, p. 343.
53) Fort i Cogul, Eufemiá, Itinerari de Sant Antoni M.ª Claret per Catalunya (Barcelona 1970); Aut. n. 458.
54) Gomá, Isidre, Panegíric del Beat Pare Anton Maria Claret (Barcelona 1934) p. 16.
55) Pío XI: L’Osservatore Romano, 7 de janeiro de 1926.
56) Aut. n. 310.
57) Cf. Lozano, Juan Manuel, Un gran apóstol de la prensa (Madrid 1963) p. 44.
58) Tesoro de Barriosuso, II, n. 728, p. 1583.
59) Aut. nn. 323, 476; cf. Bibliografía.
60) Ib.
61) Aut. n. 325.
62) Aut. n. 799, cf. Bibliografía.
63) Cf. Bibliografía; El ferrocarril, pp. 171, 179.
64) Aut. n. 695.
65) Aut. n. 461.
66) Pablo VI: Evangelii nuntiandi, n. 31.
67) Constituições CMF, 1857, n. 93.
68) Aut. n. 568.
69) Aut. n. 569.
70) Ciller, José María,El ahorro en las cajas de ahorros benéficas y en la doctrina social de la Iglesia (Madrid 1971) pp. 25-35; Lavastida, José Ignacio,El Padre Claret y las Cajas de Ahorros parroquiales en Cuba: SC 18 (1998) 23-44.
71) Aut. n. 571.
72) HD, I, pp. 790-798.
73) Ib., pp. 763-765.
74) Hugh, Thomas, Cuba, la lucha por la libertad (Barcelona 1973) I, p. 295.
75) Ib., p. 293.
76) Aut. n. 524.
77) Brunet, Manuel, Actualidad del Padre Claret (Vic 1953) p. 39.
78) Aut. n. 524.
79) Carr, Raymond, España. 1808-1939(Barcelona 1970) p. 281.
80) Cf. Gorricho, Julio, Epistolario de Pío IX con Isabel II de España: Archivum Historiae Pontificiae 4 (1966) 313.
81) Carr, Raymond, o. c., p. 280.
82) Carta ao núncio, 12 de agosto de 1849: “Vendo a grande falta que há de pregadores evangélicos e apostólicos em nosso território espanhol...” (EC, III, p. 41).
83) Aut. n. 307: “Não poucos saíram [dos exercícios] muito zelosos e fervorosos pregadores”.
84) Viñas, José María,San Antonio María Claret y la piedad de Cataluña: Analecta Sacra Tarraconensia 28 (1955) 493.
85) Bertrans, Pedro, Dos cédulas históricas: Boletín CMF Cataluña, núm. extr. (1949) pp. 56-58; Canal, José María-Alonso, Joaquín María, La Archicofradíade Nuestra Señora de las Victorias (Madrid 1959) pp. 160-167.
86) Fernández, Cristóbal,La Congregación de los Misioneros... (Madrid 1967) p. 91.
87) Torres, Ismael, Filiación Cordimariana (Madrid 1960).
88) Aut. nn. 488-491; Constituições CMF, 1857, 1865 y 1870.
89) Claret, Reglas del Instituto de los clérigos seglares que viven en comunidad (Barcelona 1864) prólogo.
90) Ib.
91) Carta ao bispo de Vic, 20 de agosto de 1849 (EC, I, p. 307); Aut. n. 560.
92) HD, I, p. 495. Foi fundada em 1846.
93) Aut. nn. 581, 332, 701.
94) Bermejo, Jesús, El apóstol claretiano seglar (Barcelona 1979) p. 155; Claret, Plan de la Academia de San Miguel (Barcelona 1859).
95) Claret, Apuntes de un Plan para conservar la hermosura de la Iglesia y preservarla de errores y vicios (Madrid 18S7).
96) El colegial o seminarista instruido (Barcelona 1860-1861) 2 vols.; Carta pastoral al clero. Santiago de Cuba 1852; La vocación de los niños (Barcelona 1864); Aut. n. 326.
97) El seminario y colegio de San Lorenzo de El Escorial (Madrid 1863); Aut. nn. 869-872.
98) Carr, Raymond, España. 1808-1939 (Barcelona 1970) p. 444: “O espírito evangélico, revivido pelo Pe. Claret no último quarto de século, dedicou-se à organização eficaz da piedade existente, tentando conservar, mediante a pressão e o poder sociais e, sobretudo, mediante uma educação católica, a fé, cuja proteção não podia ser colocada nas mãos do Estado. A religião formal não era suficiente quando podia perder a batalha”.
99) La colegiala instruida (Barcelona 1863); La cesta de Moisés (Barcelona 1846).
100) Religiosas de Maria Imaculada Missionárias Claretianas, Adoratrizes do Santíssimo Sacramento, Carmelitas da Caridade.
101) Carta ao Pe. José Xifré, Roma 16 de julho de 1869 (EC, II, p. 1406).
102) Carta à M. Maria Antonia París, Roma 21 de julho de 1869 (EC, II, p. 1411).
103) Carta a D. Paladio Currius, Roma 2 de outubro de 1869 (EC, II, p. 1423).
104) Aut. nn. 685, 686; Luzes e Graças 1859, 23 de setembro.
105) Ap 8, 13; Commentaria in Apocalypsin (Amberes 1672) pp. 167-168: “Quarto... aptissime Ribera per aquilam hanc intelligit aliquem sanctum et coelestem prophetam, quem Deus in fine mundi excitabit, ut hominibus toto orbe existentibus praenuntiet sequentes tres plagas, atque Antichristi adven­tum imminere. Unde volabit per medium caelum, id est, celerrime per mediam terram discurret, ut praedicet graviora instare impiis supplicia, ni vitam mutent...
vae... terrenis et mundanis, qui corde affectu habitant in terra, imo eidem prorsus affixi sunt” (el subrayado es mío para ver la cita contraída en Luces y Gracias y en la Autobiografía).
106) Aut. n. 687.
107) Método de misionar en las aldeas o campos y arrabales de las ciudades (Santiago de Cuba 1857).
108) Apuntes de un Plan... (Madrid 1857).
109) AguilaR, Francisco de Asís, Vida de Claret..., p. 414.
110) Aut. n. 120.
111) Aguilar, Francisco de Asís, Aguilar, o. c., p. 15: “Foi apóstolo antes de ser homem”.
112) Aut. nn. 31, 33, 34, 62, 63.
113) Aut. nn. 106-111.
114) Aut. nn. 130, 135, 192-467.
115) Aut. nn. 538-544.
116) Aut. nn. 637-641.
117) Doc. Autob. XV: discurso sobre a infalibilidade pontifícia.
118) Propósitos de 1869: exame particular, 3.
119) Clotet, Jaime, Resumen de la admirable vida del Excmo. e Ilmo. Sr. Don Antonio María Claret y Clará (Barcelona 1882) pp. 118-119.