Missionários
Claretianos Brasil

Necrologium Claretianum

Dom Francisco Prada Carrera

07/06/1995 (102 anos)

Uruaçu, GO, Brasil

Uruaçu, GO, Brasil

EXMO. Dom Francisco Prada Carrera

Nascimento: 27 de julho de 1893

Localidade: Priaranza Del Bierzo (Leão – Espanha)

Pais: Sr. Tyrso e Sra. Cristina

Profissão Religiosa: 14 de novembro de 1909

Ordenação: 02 de junho de 1917

Administrador Apostólico do Alto Tocantins: 10 de dezembro de 1937

Sagração Episcopal: 30 de outubro de 1946

Falecimento: 07 de junho de 1955

 

Trespasse de um Grande Bispo Claretiano

 

            A homenagem mais singela ou a honra mais justa que se poderia prestar à memória de Dom Francisco Prada Carrera, CMF, seria, “mutatis mutandis” aplicar-lhe a sentença do Apocalipse com que o grande Padre Vieira atribuiu ao santo, seu homônimo, São Francisco Xavier: “ Pôs o pé direito sobre o mar e o esquerdo sobre a terra”, “Posuit pedem suum destrum super mare, sinistrum autem super terram”.

            Francisco Xavier teve seu pé direito na Europa e o esquerdo na Ásia;

Francisco Prada firmou seu pé direito também na Europa e o esquerdo na América.

Francisco Xavier nasceu em Xavier, Espanha, em 1506 e evangelizou a Índia e o Japão.

Francisco Prada veio ao mundo em Priaranza del Bierzo, Leão, Espanha, em 27 de julho de 1893, missionou diversos Estados do Brasil, especialmente Góias, GO.

Francisco Xavier foi cognominado Apóstolo do Oriente.

Francisco Prada tornou-se Prelado da Prelazia de S. José do Alto Tocantins, GO.

Ambos espanhóis, ambos missionários apostólicos, ambas almas consagradas a Deus.

Aquele se adestrou para as lides apostólicas na egrégia ordem jesuítica desde jovem.

Este se arregimentou na gloriosa hoste de Claret, desde criança. D fato, filho de um casal profundamente Cristão, Sr. Tyrso e Sra. Cristina, o menino Francisco Prada com apenas 11 anos de idade ingressou no postulantado de Balmaseda, Espanha, onde cursou os estudos fundamentais e, em Santo Domingo de la Calzada, Espanha, emitindo ali seus Primeiros Votos em 1909.

Os estudos de Filosofia em 1910 e de Teologia em 1912 os cursou em Beire, Espanha, e Santo Domingo de la Calzada, respectivamente. Nesta histórica e simpática cidade, recebeu a unção sacerdotal no dia 02 de junho de 1917. No ano subsequente, ou seja, em 1918 foi destinado pelos Superiores para a Província do Brasil, vindo a residir primeiramente em São Paulo.

Dotado de privilegiada memória e coadjuvado por vigorosa força de vontade, Pe. Francisco Prada aprendeu rapidamente a nova língua e se adaptou com facilidade aos costumes do povo brasileiro.

Sacerdote íntegro e religioso exemplar, expendia desde a juventude o odor de todas as virtudes, pois se faltasse uma, desapareceriam as demais, conforme observou São Gregório.

Tão logo terminou seu estágio de adaptação, iniciou sua caminhada missionária e recebeu como primeiro destino, a cidade mineira de Carangola, MG. E depois a de Belo Horizonte, MG, onde exerceu, com notável zelo, o múnus de cooperador do Vigário Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, e de pregador de retiro para religiosos.

De físico avantajado e de bela presença pessoal, classificou-se em primeiro lugar, no concurso promovido pela imprensa mineira sobre o “Sacerdote mais querido e bonito de nossa Capital”.

Requisitado pela comunidade da Bahia pelos seus dotes oratórios, para lá seguiu Pe. Francisco Prada, cuja voz possante de tenor se fez ouvir nas plagas baianas, na boa terra dos Ruy Barbosa, dos Castro Alves, dos Jorge Amado e de tantos outros, arrebentando o público em porfia com os maiores oradores sacros de Salvador, como um Dom Álvaro Augusto da Silva, Cardeal; um Monsenhor Sadoc, cura da catedral, entre outros.

Por volta dos anos 30, retornou à Capital Mineira, investido com as funções de Superior da Comunidade e Vigário da Igreja, hoje Basílica, de Nossa Senhora de Lourdes. Em seguida, Pe. Francisco Prada passou a formar parte da Comissão preparatória do II Congresso Eucarístico Nacional, realizado nas alterosas com toda a pompa litúrgica, em setembro de 1936. Nessa mesma ocasião, talvez por sua influência, ou pela beleza arquitetônica do templo, ou por ambas razões, nossa Igreja de Lourdes foi escolhida para a adoração ao Santíssimo Sacramento durante os dias do Congresso. Também constituiu motivo de santo orgulho para nós, a realização na nossa Igreja da soleníssima “Hora Santa” do Clero, presidida pelo Exmo. Cardeal Legado, e assistida por 50 bispos e 400 sacerdotes.

A partir desses acontecimentos, a vida do Pe. Francisco Prada teve o destino de um asteróide com sucessivas mudanças. Assim, em 24 de junho desse mesmo ano de 1936, o Governo Geral o escolheu para compor o Governo Provincial, ocupando o cargo de Primeiro Conselheiro e, por esse categórico motivo se transferiu, sem mais delonga, para a progressista cidade de São Paulo. Ainda em 28 de dezembro desse ano, foi nomeado Superior local da Comunidade para o triênio 1937-1939. A estrela do Pe. Francisco Prada continuou em ascensão, cujo brilho iluminou os pórticos de Roma que o nomeou para Prelado da Prelazia de São José do Alto do Tocantins, GO, em 1938, tendo como sede Niquelândia.

A distinção com que foi agraciado, aguçou-lhe ainda mais seu zelo apostólico missionário que o levou a percorrer de jipe, e também muitas vezes em lombo de animal, o vasto território da Prelazia.

Conhecedor profundo de sua situação geográfica e populacional, batalhou valente junto à Nunciatura Apostólica, para converter a Prelazia em diocese com sede em Uruaçu, GO. E conseguiu. Efetivamente, desde o ano de 1937 atuou como Administrador Apostólico da Prelazia até o dia 03 de setembro de 1946, quando, em pleno vigor de seus 54 anos, foi eleito Bispo titular de Bisica, recebendo a Sagração Episcopal no dia 30 de outubro de 1946. Ao ser criada, dez anos depois, a Diocese de Uruaçu, a 1º de maio de 1956, Mons. Francisco Prada foi nomeado Primeiro Bispo da nova Diocese que substituía à Prelazia de São José de Tocantins.

Desde 1937 actuó como Administrador Apostólico de la Prelatura, hasta que el 3 de septiembre de 1946, cuando contaba 54 años, fué elegido obispo titular de Bisica. Al ser creada, diez años después, la diócesis de Uruçu, el 26 de mayo de 1956, el Pe. Prada fué nombrado primer obispo de la nueva diócesis, que substituía a la prelatura de São José de Tocantins”.

Pela experiência adquirida no tirocínio da vida missionária, sabia muito bem, o novo Prelado, que o múnus episcopal não eximia de perigos senão que o sobrecarregava de trabalhos, no dizer do Bispo Hipona: “Nihil in hac vita difficilius periculosius episcopi officio”. E que suas preocupações são redobradas assim de dia como de noite, sentenciou um outro eminente bispo – o “boca de ouro” São João Crisóstomo: “Curis perpetuis obtenditur, tum diurnis, tum nocturnis”. Mas, como o “bom pastor que expõe sua vida pelas ovelhas” (Jo. 10,11) “Bonus pastor, animam suam dat pro ovibus suis,” Dom Francisco Prada superou todos os obstáculos com ânimo forte e pastoreou com persistência e carinho seu novo rebanho.

Contudo, Dom Francisco Prada não era homem de meias palavras. Caráter franco e positivo, sincero e justo humilde e bom, era incapaz de guardar ressentimentos, porém, fácil para pedir perdão a quem supostamente ofendera.

Ao lado das muitas atividades espirituais implantadas na diocese, também sobressaíram as obras materiais, como a construção da residência episcopal, a da Igreja Catedral, o Seminário diocesano, o Colégio de ensino fundamental e médio; a criação e edificação de capelas e/ou de suas reformas na zona rural. Praticamente, o que de melhor existe hoje na diocese de Uruaçu foi, inquestionavelmente, obra de Dom Francisco Prada e dos missionários claretianos que lá mourejaram (Trabalhar com afinco), notadamente, do inesquecível Pe. Eusébio Lécue, CMF que se constituiu, por longos anos, seu braço direito.

Radicam-se, na sua Diocese, as Paróquias Claretianas do Imaculado Coração de Maria de Itapaci, GO, e de Nossa Senhora da Abadia de Goianésia, Go.

Dom Francisco Prada governou a Diocese até a idade de 75 anos, quando apresentou à Santa Sé sua renúncia, em 25 de fevereiro de 1976.

Uma vez aceita a sua renúncia, Dom Francisco Prada passou a residir na comunidade claretiana de Goianésia durante vários anos, transferindo-se posteriormente para a nossa casa de Goiânia, GO, onde veio a falecer de insuficiência respiratória, aos 102 anos de idade, sendo o bispo mais velho do Brasil e do mundo.

É voz corrente entre os acadêmicos que, de todas as paixões humanas a mais nobre é a paixão da leitura.

Não poderia encerrar esta pequena biografia sem me referir a essa nobilíssima paixão de Dom Francisco Prada: a leitura. Pode-se dizer que foi o vício dominante de sua vida. Efetivamente, foi um leitor inveterado, um insaciável devorador de livros. Lia muito. Lia sempre. Lia notadamente os escritos da Santa Igreja e da nossa Congregação. Por isso, dava notícia de tudo que se passava no mundo, desde as intermináveis lutas do Oriente até dos campeonatos interestaduais de futebol. Acompanhava com interesse a evolução das ciências, principalmente no campo genético, e não lhe passavam despercebidas igualmente as rádio–mensagens do Sumo Pontífice e as notícias da Igreja e dos Provinciais claretianos. Dava gosto ouvi-lo, mesmo falando alto por causa de sua surdez.

Daí seu prazer pela escrita. Escreveu à bessa. Escreveu nada menos que 18 livros. No florilégio de suas obras, colhemos estes títulos entre muitos outros: Facetas de uma Vida; Constelação Claretiana; A Congregação Claretiana e a Imprensa; Missões Populares Claretianas no Brasil, Pequena Biografia do Padre Astério Pascoal; Claret Apóstolo Genial, tradução; Luz sobre Muquém; Diocese de Uruaçu e Prelazia Claretiana Alto Tocantins etc. Escreveu, sem muita preocupação com a gramática nem com a forma literária. Seu estilo foi simples. Direto. Caseiro. O que mais lhe importava era fazer registro dos fatos, dos lugares, ou da biografia de seus colaboradores na Prelazia e na Diocese de Uruaçu. Ah! Se sua velha máquina de escrever falasse, quantas maravilhas nos contariam de sua prodigiosa memória que tudo armazenava e, nas batidas descompassadas de seu teclado, ia destilando as recordações, as datas, os acontecimentos com incrível precisão, com firme segurança e escrupulosa lealdade! Às vezes deixava extravasar seus sentimentos íntimos, como os exarados no seu testamento:

“Meu Adeus: Antes de partir quero deixar expresso meu profundo reconhecimento e gratidão à querida Congregação, por tudo quanto tem feito por mim na ordem material e espiritual. Este agradecimento o manifesto de maneira especial a esta Casa de Goiânia, que me acolheu com tanta dedicação na última etapa de minha vida. De joelhos peço perdão a quem ofendi ou desedifiquei: Uma vez recebida a notícia de minha morte, lhe peço o favor de rezar pela minha pobre alma. Até o céu!”

“Mi adiós: Antes de partir, quiero dejar expressado mi profundo reconocimiento y gratitud a la querida Congregación, por todo cuanto há hecho por mí em el ordem material y espiritual.

Este agradecimiento lo manifiesto de modo especial a esta casa de Goiania, que me ha acogido, com tanta dedicación em la última etapa de mi vida. De rodillas pido perdón a quien ofendí y desedifique.Una vez recibida la notificación de mi muerte, le pido el favor de rezar por mi pobre alma. Adiós, hasta el cielo”.

Assim encerrou sua carreira terrena, este ilustre antístete da Santa Igreja e valente missionário das hostes de Claret no dia 07 de junho de 1995, na cidade de Goiânia, GO.

Seus restos mortais repousam na cripta da Catedral de Uruaçu, bem pertinho do altar, e como epitáfio de eterna memória a quem em vida tanto amou a Jesus, sirva este terceto do poeta mineiro. Alphonsus de Guimaraens:

Feliz da alma que não descreu de nada,

e onde Jesus eternamente habita

como dentro de uma hóstia consagrada!”

 

Descanse em paz, insigne claretiano, Dom Francisco Prada Carrera, CMF.

RIP. 

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