Missionários
Claretianos Brasil

Espiritualidade

"Meu espírito é para todo o mundo..."
(Claret)

A vivência espiritual da nossa Congregação nesse novo milênio está profundamente marcada pelo momento histórico que vivemos. Por ser uma espiritualidade missionária e profética é chamada a responder aos grandes desafios do nosso tempo e a inserir-se nas correntes espirituais que o Espírito Santo presenteia a nossa humanidade.

Cada missionário Claretiano é chamado a aprofundar e a enriquecer a espiritualidade própria da nossa vocação na Igreja e no mundo de hoje. Precisamos constantemente voltar às fontes do nosso modo peculiar de ser missionário. Em Claret temos um modelo de escuta, interiorização e serviço à Palavra de Deus, de fina sensibilidade diante dos problemas humanos e sociais e de um amor profundo ao povo, de atenção aos desafios do momento e um discernimento sobre os acontecimentos históricos, de busca constante da vontade de Deus e de dedicação às coisas do Pai, de intensa vida eucarística e de pleno abandono à ação materna de Maria. A complexidade que envolve a espiritualidade hoje está pedindo algo mais de estudo, de contemplação e de real compromisso com os pobres e os excluídos. Desde esta perspectiva daremos sentido, densidade e esperança à nossa vida missionária claretiana com dinamismo profético.

Por isso, dirigimos, em primeiro lugar, nosso olhar à realidade em que acontece a vinda e unção do Espírito e à qual anuncia o "ano de graça do Senhor". Dito olhar está carregado de alegre esperança pelo "hoje" do cumprimento e, ao mesmo tempo, de ameaças que derivam das resistências com que o pecado da humanidade em geral, e no nosso em particular, continua impedindo sua realização plena.

O Espírito que age em nós

Falar de "espiritualidade" é, sobretudo, referir-se ao Espírito Santo, "Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filho... e que falou pelos profetas". Sua misteriosa Pessoa é o grande agente de toda espiritualidade. O Espírito inspira e leva à realização os nossos projetos, sugere e torna realidade os nossos sonhos. Mesmo tendendo a designar como espiritualidade os momentos de oração, meditação, etc., sabemos que a autêntica espiritualidade envolve e implica nossa vida com todo, no seu leque de relações.

Mesmo sabendo que os grandes estímulos para a nossa espiritualidade vêm da Mãe Igreja e do movimento dos povos em busca do Reino de Deus, entretanto, não podemos nos esquecer que somos na Igreja uma "Congregação de Missionários", agraciados com um carisma. Este carisma coletivo confere à nossa espiritualidade cristã uma especificidade e nos faz desenvolvê-la - em nós e nos demais - a partir daquelas perspectivas às quais somos especialmente sensíveis. Quais são? A resposta vamos encontrá-la, em primeiro lugar, em nosso Pai Fundador, Antônio Maria Claret, e também no caminho que a Congregação foi percorrendo em sua história

A experiência espiritual de Antônio Maria Claret

Nosso Padre Fundador amadureceu sua experiência cristã através de um processo que deixou traços característicos à sua fisionomia espiritual. Quatro expressões, tiradas de sua leitura peculiar da Palavra de Deus, nos indicam os pilares sobre os quais fundamentou seu caminho espiritual: "Quid prodest" (Mt 16, 26), "Patris mei" (Lc 2, 49), "Charitas Christi" (2Cor 5, 14), "Spiritus Domini" (Lc 4, 18; Is 61, 1). A primeira expressão nos fala de sua experiência humana e as três seguintes de sua experiência trinitária de Deus, a este processo denominamos Frágua, que é um projeto de reiniciação claretiana que pretende responder à necessidade de desbloquear situações de rotina e oferecer caminhos concretos para a renovação pessoal e comunitária. Seu objetivo é ajudar o missionário claretiano a reviver as experiências fundamentais da sua vocação de servidor da Palavra. A Frágua é uma oportunidade para tomar a própria vida nas mãos e iluminá-la desde distintos ângulos, principalmente desde a Palavra de Deus.

Nossa herança espiritual

O dom recebido por Claret continua e se desenvolve em nossa Congregação, o que nos faz perceber algumas coincidências essenciais entre o Instituto e o Fundador:

Princípio organizador: Podemos resumir na palavra missionário o nosso patrimônio carismático. Sentimo-nos comunidade convocada pelo Espírito para o anúncio da Palavra; sabemos que fomos chamados a viver como "missionários apostólicos", a estilo dos Apóstolos. Isso implica na vivência dos conselhos evangélicos em comunidade de vida com Jesus e com os irmãos, para sermos enviados e proclamar a todo o mundo a Boa Nova do Reino.

Primazia da Palavra de Deus: Nós herdamos de Claret uma espiritualidade de ouvintes e servidores da Palavra. Acolher a Palavra que nos torna discípulos, anunciá-la e testemunhá-la, é nosso modo de seguir a Jesus. Contemplamos o Mestre e escutamos sua Palavra para anunciar o Reino, abrindo-lhe nosso coração e partilhando as angústias e esperanças de nossos irmãos.

Centralidade de Cristo: Claret viveu sua espiritualidade num processo que parte de "uma profunda sintonia de amizade com Jesus Cristo (sobretudo através do sacramento eucarístico), dessa intimidade com o Filho foi paulatinamente descobrindo a figura Deus Pai, que envia Jesus por amar o mundo". Pe. Claret plasma seu ideal desde "a configuração com Cristo consagrado e enviado pelo Pai para a redenção do mundo" através da "imitação exterior das chamadas virtudes apostólicas e da vivência de suas atitudes interiores e da plena transformação: é Cristo que vive em mim". Também definimos nosso ser missionário como identificação com Cristo Evangelizador. A partir da celebração eucarística, vivemos a íntima comunhão com Ele. Aí tem origem tudo o que somos e fazemos.

A mediação iniludível de Maria: No Fundador e em nós se dá uma espiritualidade cordimariana. Claret nos apresentou o Coração de Maria como a forja ardente onde nos formamos para o ministério. A Congregação dos Missionários Claretianos descobre e aprende no Coração de Maria o caminho da escuta. Habitada pela Palavra, não viverá dividida, nem será insensível aos clamores de Deus nos homens. "Nosso estilo profético de vida recebe do Coração Imaculado de Maria, mãe da Congregação, um estilo peculiar. Ela nos ensina que, sem coração, sem ternura, sem amor, não há profecia digna de crédito".

Espiritualidade integradora: Em sua Autobiografia nosso Padre Fundador exemplifica a espiritualidade a partir do caráter simbólico de objetos e animais, aberto à presença salvadora na harmonia da criação. Claret demonstra assim ser também seguidor do Jesus das Parábolas, que nos propôs como modelo para o ministério.

A síntese da espiritualidade que recebemos de Claret é esta: "O Espírito do Pai e do Filho - Espírito também de nossa Mãe - é o centro integrador de todas as dimensões de nossa vida e missão". A partir dele nos consagramos "a Cristo e ao Coração de Maria, em perfeita vida apostólica e evangélica, orando e sofrendo pela salvação dos homens para a glória de Deus Pai". Esta experiência de graça, partilhada desde o princípio com um grupo de companheiros a quem o Senhor havia dado o mesmo espírito, é o fundamento de nossa existência carismática na Igreja.

(Fonte: BOCOS, Aquilino. Nossa Espiritualidade Missionária no caminho do Povo de Deus. Roma 2002)