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III. A Carta Pastoral (1895) de Dom Joaquim Arcoverde tratando da chegada dos Claretianos e a Fundação da Quase Província da Argentina e do Brasil (1904)

III.                    A Carta Pastoral (1895) de Dom Joaquim Arcoverde tratando da chegada dos Claretianos e a Fundação da Quase Província da Argentina e do Brasil (1904)

 

                A propósito da chegada dos Missionários Claretianos vale conhecer a Carta Pastoral de Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti de 1895. Neste documento, Dom Joaquim fala ao clero e aos fiéis da Diocese de São Paulo sobre a chegada da Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria e, também, da construção de uma casa e de uma igreja aos novos missionários. A Carta Pastoral de 1895 é parte do acervo de Documentos Raros do Arquivo Provincial.

 

“O desejo da salvação de tantas almas confiadas à nossa direção e pastoral solicitude pelo Divino Espírito Sancto, Irmãos e Filhos dilectíssimos, o conhecimento que temos do abandono espiritual, quase completo, em que vegetam freguesias e povoações inteiras, desta nossa tão dilatada e querida Diocese, à míngua de quem lhes parta o pão da instrucção religiosa e lhes ministre o auxílio e o conforto dos sacramentos a nossa Sancta Egreja, a lamentável escassez sempre crescente do clero nacional, que tanto desejaramos ver forte e invencível, não só pelo numeroso como pela piedade e pela sciencia, obrigaram-nos a empenhar todos os esforços para conseguir, na Europa, Congregações religiosas de missionários que se dedicassem a evangelizar os pobres habitantes dos sertões, a doutrinar nossas povoações e nossas cidades, onde o espírito das trevas tem assentado suas tendas, semeando a desordem e espalhando doutrinas de corrupção e de perdição.

        Das várias Congregações a que expusemos nossos paternaes anhelos e as necessidades do nosso querido rebanho, e que convidamos para nos virem consolar e auxiliar no amanho desta mimosa vinha, digna por certo de melhor sorte, somente duas nos ouviram os rogos e as súpplicas: a dos redemptoristas, dignos filhos de Sancto Affonso de Ligório, e a dos missionários hespanhóes, Filhos do Immaculado Coração de Maria. A Congregação do Smo. Redemptor não nos poude até agora enviar mais de dous missionários, sacerdotes, que se acham, no Episcopal Sanctuário de Apparecida, prestando, com o exemplo e a palavra, relevantíssimos e inestimáveis serviços, não só aos romeiros, que para alli afluem de toda a parte, mas também, a quantos procuram o seu ministério.

         A congregação dos missionários, Filhos do Immaculado Coração de Maria, está prompta a mandar-nos já cinco sacerdotes e três irmãos leigos, desde que lhes enviemos os meios de conducção, e lhes preparemos aqui uma casa própria e uma egreja, onde possam funccionar livremente. Esperamos tel-os aqui, querendo Deus, por todo o mez de Novembro próximo futuro. Cumpre-nos, agora, preparar-lhes uma habitação conveniente, onde possam viver, não somente esses oito que se-nos-offerecem, mas ainda outros que forem vindo, com o andar do tempo e com o crescer das necessidades.

        Além disso teemos intenção de começar desde logo, ao pé da residência dos missionários, a construcção da Egreja, dedicada ao Immaculado Coração de Maria, para eles ali funccionarem. Trata-se de dar agasalho e sustento a denodados obreiros do Evangelho, distinctíssimos sacerdotes que, pelo amor da salvação das almas, para tornarem sempre mais conhecido o nome de Deus, e mais dilatados os domínios de sua graça, abandonam pátria e parentes, aventuram-se à imensidade dos mares que delles nos separa, afrontam privações e sacrifícios incalculáveis, diversidade de climas, de costumes e de linguagem e veem domiciliar-se entre vós para doutrinar vossos filhos, vossas famílias, evangelizar o nosso povo e os nossos sertões longínquos, e a nós todos instruir e encaminhar ao Céu com a lição efficaz do exemplo e com a palavra fructífera do Evangelho.

          Sacerdotes desta nossa Diocese, irmãos e cooperadores nossos; fieis todos, filhos nossos dilectíssimos, contamos, com absoluta confiança que haveis de corresponder ao apelo do vosso humilde, mas dedicado Bispo e Pai espiritual. E assim veremos surgir rapidamente e ir felizmente a termo essa obra de civilização e de progresso, que attrahirá sobre vós as bênçãos de Deus e dos homens.       Deus vos guarde a todos, Irmãos e Filhos dilectíssimos, e vos abençoe, preservando-vos de todo o mal. Amém.

          Dada e passada no Paço Episcopal de São Paulo, sob o nosso signal e sello de nossas armas, aos 19 de Maio de 1895, festa de Nossa Senhora Apparecida”.

 

Damos, desta forma, novo capítulo da história dos Missionários Claretianos no Brasil. Necessário observar que à mesma época, a Congregação dava os primeiros passos na América do Sul. A Comunidade de São Paulo, fundada em 1895, estava ligada originalmente à Província de Castela. Aliás, as fundações desse período na América do Sul seguiam o mesmo caminho. Apenas em 1904, foi fundada a Quase-Província da Argentina e do Brasil, que, desta maneira, ganhava autonomia; em 1908, por meio de Decreto do Governo Geral do dia 15 de Maio, foi criada a Quase-Província do Brasil. No XII Capítulo Geral, realizado em Vic, em 1922, decidiu-se pela criação da Província do Brasil; em 1954, houve a separação com a criação da Província do Brasil Meridional e da Vice-Província do Brasil Central; em 2007, promoveu-se a unificação dos organismos e, desta forma, nasceu a Província do Brasil tal como a conhecemos hoje.